Arquivo da categoria: Opinião

Não que eu seja influenciável

Passei um fim de semana revirando a vida inteira da dona desse blog. Exceto pelos 4 filhos e 2 cachorros, tudo o mais me empolgou tão imensamente que semana passada fiz minha primeira pizza, comecei uma hortinha e comprei uma composteira! E já estou sonhando com o meu próprio cereal, katchup e pasta de amendoim.

Sobre a pizza, não teve a parte poética de sovar usando apenas mãos e amor porque já estraguei muita massa tentando brincar disso. Essa aqui eu bati na batedeira com aquele batedor especial em forma de gancho. Ela formou essa bola sozinha, graças a Deus. Então foi só passar um pouco de óleo pra não ressecar, deixar descançar pra crescer, colocar na geladeira pra fixar o sabor e… bem, a novela da pizza eu explico depois. Só adianto que ficou tipo assim a-melhor-pizza-do-planeta-de-todos-os-tempos.

IMG_20160629_190232974 IMG_20160629_210514133 IMG_20160701_195903432

O lixo orgânico lá de casa agora tem destino nobre: alimentar minhas singelas 300 minhocas australianas. Fofo, não? Tem promoção de composteiras de todos os tamanhos na Morada da Floresta. Essa é pra duas pessoas que comam pouco em casa.

IMG_20160704_165134362

E o húmus das minhas minhocas vai alimentar a hortinha, que por enquanto se resume a esse humilde vaso na janela com um pezinho de salsa, cebolinha, rúcula e manjericão. Mas não subestimem. É assim que nascem os impérios.

IMG-20160630-WA0010 (1)

Marido está me zoando que o que eu gastei até agora dava pra comprar rúcula pro resto da vida. Ele não entende, o que está em jogo é romper com o sistema, é tomar a pílula vermelha. Ou era a azul? Não lembro.

Enfim, a questão é sair da já saturada lógica capitalista. O problema é que o sistema é foda, parceiro. Até sair dele tem preço. E custa caro. E no final, você nem sai de verdade. É só uma ideologia que eu quero pra viver.

E viva Cazuza. E viva o Capitão Nascimento.

A máfia das velhinhas

As minhas manhãs estão cronometradas desde que inventei de fazer hidroginástica antes do trabalho. Acontece que às 6h30 é a hora do rush da hidro. A piscina está tão lotada que é difícil não acertar alguém quando o professor manda dar chutes laterais, por exemplo. E tem uma patota de velhinhas que fazem rodinha no meio da piscina pra bater papo. A gente se acotovelando na aula enquanto elas estão lá, balançando placidamente o corpo ao sabor da água numa conversa tão animada que até esquecem o professor, a aula, os exercícios, whatever.

Ok, elas têm o direito de fazerem o get together quando bem entenderem. Mas olha que sacanagem master: antes da aula acabar, as apressadinhas já começam a sair da piscina. Bem no meio do alongamento, a corna aqui tem que ficar dando pulinhos pra lá e pra cá, porque tem velhinhas passando.

Tudo isso sabe por que? Hein? Hein? Sabe de nada, inocente.

Pra chegar antes no chuveiro! E lavam cabelo e tudo.

Daí, lá vai a corna ficar plantada no banheiro esperando vaga no chuveiro. E elas continuam a conversa “inter” box: cada uma no seu, berrando pras outras ouvirem. Tranquilas da vida. Só falta cantarem.

Ó-d-e-o. matadores de velhinha

 

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha

Só que não.

Foi do dia pra noite, num flash, como um piscar de olhos. Meu rosto pulou pros 40 anos do nada, sem fazer escala.

O espelho não deu nenhum aviso prévio. Foi com a ascensão da selfie que eu descobri a verdade. Eu me olho no espelho e é uma coisa, faço uma selfie, e é outra. No espelho: ok. Na selfie: ARG! Pode isso, Arnaldo?! Cheguei a colocar a câmera ao lado do espelho. Vejo duas pessoas diferentes. Eu sou a do espelho ou a da selfie? Ok, não respondam.

Mas isso não tem relação com o fato de ficar velha.

-x-x- Pausa para a questão das distorções da autoimagem. – x-x-

Só agora descobri porque eu me achava tããão mais bonita do que eu era. Desde pequena me julgava linda demais, uma Brastemp, essa Coca-Cola toda. Podia passar horas encarando o espelho, me comia com os olhos. Não entendia porque as pessoas não rastejavam por mim. Como nenhum olheiro da Ford Models me descobriu?

Muito antes do tempo das câmeras digitais, cheguei a juntar um dinheiro, fui num estúdio de fotografia (daqueles bem peba onde se tirava foto 3×4) e pedi pro senhor tirar uma foto minha. Passei um batom vermelho cremoso anos 90, joguei o cabelo pro lado, fiz carão, olhar penetrante, fiquei uns demorados segundos imóvel, e esperei o resultado. Naquele tempo não saía na hora. Quando voltei pra pegar, espanto: cadê eu? O que vi foi uma garota bem ordinária me encarando presunçosamente. Tenho essa foto guardada até hoje.

O espelho parece tão real que levei 35 anos pra perceber a ilusão que ele provoca. E passei todo esse tempo culpando os fotógrafos. Isso vale pra peso também. Já ouvi pessoas dizendo que só se deram conta do próprio peso quando se viram em foto na praia.

O espelho reflete o que a gente pensa, não o que a gente é.

-x-x- Agora voltemos para o meu envelhecimento súbito. -x-x-

O fato de não ser o colosso que eu via no espelho não significava que eu não fosse bonita. Eu era bonita, ok? Ouvia muita cantada na rua, no trabalho.

Depois parei de ouvir…

As pessoas ficaram discretas, educadas. Pensei.

Depois aprendi com o feminismo que cantada é abuso sexual. Então beleza não ouvir mais cantada.

As gafes de confundirem meu marido com meu pai também acabaram. Ok, dava pena ver a cara de constrangimento das pessoas.

Agora, frequentemente alguém me pergunta se eu estou tensa, preocupada com alguma coisa, e já saem me consolando a priori. Eu até pensava que devia estar preocupada mesmo, alguma coisa do subconsciente, sei lá. Fabricava motivos que correspondessem ao que o meu rosto sinalizava. Afinal, se a minha cara está preocupada, então eu estou preocupada. É fácil achar motivo pra se preocupar.

Finalmente fiz minha segunda grande descoberta depois do espelho. Estou envelhecendo. As bochechas estão minguando, as sobrancelhas estão escorregando testa abaixo, os olhos estão caindo nos cantos. É isso. Por isso as pessoas acham que eu estou preocupada.

The oldness is coming.

Descobri que sorrir empurra as bochechas pra cima, e isso empurra também os cantos dos olhos caídos. O negócio então é sorrir. Depois de buscar motivos pra me preocupar, agora tenho que sorrir.

Resumo da ópera: dei pra fazer selfie com sorrisinho de monalisa.

Me incomoda

Me incomoda o povo confundindo o dia da mulher com o dia das mães.

Me incomoda os homens confundindo o dia da mulher com o dia da esposa, da amante, da gostosa que eles querem comer.

Sexta-feira, na aula de hidro, passei uma hora ouvindo uma coletânea de músicas que fizeram para a mulher:

– Teve Roberto Carlos homenageando as baixinhas e as quarentonas que ele quer comer;

– Teve Martinho da Vila enumerando as mulheres que ele já teve, de todas as cores, idades, formatos, tamanhos, só faltou materiais, tipo mulher de plástico.

– Teve um cara de axé com a voz do Compadre Woshington homenageando a mulher toda boa, toda boa, toda boa… que ele quer comer;

– Por fim teve uma luz no fim do túnel, e eu aliviada pude ouvir a Elis Regina cantando Maria Maria. Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!

Mas antes da hidro, eu ainda tive que ler o e-mail do meu chefe homenageando as mulheres. Além das gafes clássicas de homenagear mãe, esposa e empregada, ele ainda resolveu ser profundo e citou vário filósofos (notem, filósoFOS), todos comparando mulheres com flores, perfume, jardim, purpurina.

É tão difícil assim homenagear simplesmente a mulher? E antes que digam, não, eu não tô na TPM. É só que me exaspera ver que ainda precisamos de mil dias da mulher pra realizar o que é ser mulher. Eu posso não ser mãe ou esposa, posso não saber fritar um ovo. Posso, ao invés disso, dirigir um caminhão, virar uma laje ou gostar de mulher. Ainda assim, serei tão mulher quanto qualquer outra.

Dizem que mulher é um ser complicado por natureza. Mas complicadas são as regras que inventaram pra gente. Pela natureza, ser mulher é muito simples, tão simples que a gente nasce sabendo, mas quando cresce, desaprende.

Ser mulher é fazer as coisas #LikeAGirl.

Obrigada, Always.

Domingo na Praia do Flamengo

O mar estava perfeito. Não vi nenhuma super bactéria, e ainda achei uma manga na água!

20141228_095542

 

O único percalço foram três sirigaitas que interromperam meu sagrado sossego pedindo pra fotografá-las. Me fizeram levantar e andar atrás delas em busca do melhor ângulo! O abuso era tanto que eu não tive nem reação. Quem nasceu pra pôia nunca perde a… qual mesmo o antônimo de majestade?

Mas eram burras, coitadinhas. Abusadas, mas burras. Ciscaram pra todo lado fazendo poses, biquinhos, empinando bunda e encolhendo barriga… mas ficaram de costas pro sol, aquelas antas. Saiu tudo escuro. Bem feito. Eu nem falei nada. Devolvi o celular, dei meia volta e voltei pra minha manga.

Você que queria mudança, vote NULO

 

Porque as opções neste segundo turno são:

pt

 

Dois mineiros

Com cinco letras.

DILMA

 

aécio

 

Bem-aventurados os pobres de espírito

Two pills

Da azul moço, me vê logo duas.

A tapioca da discórdia

Sobre coisas da vida que eram pra ser simples mas tornam-se uma novela.

Toda sexta-feira eu trago tapioca pro pessoal daqui do trabalho. É de graça, de presente, pura bondade de coração. Então é uma tapioca só. E às vezes nem tapioca é. Substituo por bolo de milho sempre que a fila da tapioca na feira está muito grande.

Herdei essa incumbência de uma antiga chefe de seção que se aposentou. Ela trazia tapioca da feira pro pessoal da seção dela e, como eu morava na mesma rua, acabei me prontificando a manter a tradição após sua aposentadoria.

Esse “pessoal” na verdade eram os antigos funcionários dela e quem mais aparecesse no canto do café.

Daí o tempo foi passando, as pessoas foram mudando, muita gente nova entrou na gerência, e eu mantive a tradição da tapioca basicamente por duas pessoas doravante assim denominadas: o Gibson porque é louro, alto e bonito igual ao Mel Gibson, e a Dercy porque senão ela me xinga igual à Dercy Gonçalves e ainda para de falar comigo.

Então, essas são as duas pessoas sagradas. Essa é a única regra. No mais, quem estiver presente lucra um pedacinho. Estamos falando de uma única tapioca para em média 5 pessoas (exclusive eu), ou seja, uma lasquinha bem socialista mesmo pra cada um.

No começo trazia duas, mas percebi que a Dercy estava muito egoísta guardando uma inteira só pra ela. Daí, passei a trazer uma só.

No começo eram só Gibson e Dercy que eu chamava, mas daí começou a aparecer gente carente se sentindo desprestigiada porque não foi “convidado”, daí comecei a ter que fazer convites. E aí começou a novela.

Dercy ficou com ciúmes e brigou com uma dessas pessoas. Já falei que Dercy é temperamental? Essa pessoa então parou de falar com Dercy e me pediu para trazer só para ela, mediante pagamento, claro. Só esqueceu de me dar o dinheiro antecipado. A única vez que eu trouxe a encomenda “exclusiva” para ela, a cara-de-pau fez propaganda pela gerência e mandou que viessem fazer degustação do pedaço que eu trago de cortesia para os meus amigos, ao invés de dar do dela. Não preciso nem dizer que a Dercy quase enfartou.

Resultado: nunca mais trouxe o pedaço por encomenda pra essa pessoa, e agora tenho que ouvir as indiretas dela.

Por falar em indiretas, tem também uma outra “sensível” da gerência. Na verdade, essa outra figura é muito olho grande. Apesar da estatura de hobbit, ela não pode ver comida de graça que não sossega enquanto não garante o seu quinhão. Então toda sexta é a mesma coisa: ladainha, indiretas, insinuações até conseguir umas lasquinha da tapioca, ou do bolo de milho, ou do jiló se jiló eu trouxesse.

Hoje foi a vez da hobbit-olho-grande se superar. Dercy não estava porque saiu cedo pra fazer coisas no Centro, mas ainda voltaria. Como Dercy tem três dúzias de folgas do TRE pra tirar, coloquei na cabeça que ela enforcou o feriado e abstraí de vigiar para salvar o pedaço dela. Por fim, estávamos eu, um outro colega, o Gibson e a hobbit-olho-grande. Como sobrou um pedaço, eu perguntei se Gibson ou o outro colga não queriam matar. Como os dois declinaram da oferta, quem ficou quicando na cadeira até meter o mãozão na tapioca? Quem? Quem Quem? Acontece que a hobbit-olho-grande de distraída não tem nada. Assim que meteu o mãozão no último pedaço, falou:

– Quem vai ficar fula da vida é a Dercy quando voltar da rua! kkkkk

Foi aí que me caiu a ficha. A Dercy ainda vai voltar! Putz! Vai me xingar de viada, vai parar de falar comigo, a novela vai começar… E a fdp da hobbit-olho-grande sabe muito bem disso, mas o olho é maior que tudo nessa vida.

OK, só questão de horas pra estourar a terceira guerra mundial. Não deu outra. Voltando do almoço, dei de cara com a Dercy no hall do elevador do lado da hobbit-olho-grande. Dercy foi logo despejando seu arsenal bélico sobre mim enquanto a hobbit-olho-grande tirava o seu da reta descaradamente.

Raiva, muita raiva. Pensei em tantas coisas hediondas pra fazer com essa hobbit dos infernos. Por fim, ela veio e me deu o dinheiro pra comprar uma tapioca exclusiva pra Dercy na semana que vem.

Problema agora é a minha memória. Se eu esquecer dessa bosta, aí ferrou.

Se uma tapioca rendeu assim, vocês podem imaginar no que deu a doação dos meus vestidos de marca pro brechó beneficente de uma colega daqui do trabalho pra ajudar o Hospital Mário Kröeff.

Muitas coisas num post só

Gosto de frases plásticas, de coisas velhas, de molho, muito molho na comida. E de pão pra limpar o prato.

Cansei de laços em sapatilhas e de faixas marcando a cintura.

Tô com mania de velho. Até filme, os mais lindos são os que têm velhinhos:

– Conduzindo Miss Daisy – Uma velhinha orgulhosa que é obrigada a conviver com um motorista negro. conduzindo-miss-daisy

História Real – Um velhinho que resolve atravessar os EUA pilotando um trator para se reconciliar com o irmão.historia real

Desde que Otar Partiu – Uma velhinha que continua se correspondendo com o filho predileto que foi para Paris e ela não sabe que morreu.desde-que-otar-partiu

Primavera, Verão, Outono, Inverno e… Primavera – Um velhinho japonês que mora no meio de um lago com seu discípulo.primavera-verao-outono-inverno-e-primavera_poster_2

Adeus, Lenin! – uma velhinha em Berlim Oriental “casada com o socialismo” que passou 8 meses em coma e não sabe da queda do muro e do fim regime. adeus lenin

– Uma Família em Tóquio – Um casal de velhinhos que sai de seu vilarejo e decide visitar os filhos em Tóquio. uma-familia-em-toquio

Philomena – Uma velhinha muito católica que teve o filho retirado de seus braços há 50 anos por freiras que vendiam crianças para adoção. philomena

– Nebraska – Um velhinho que resolve fazer uma longa viagem a pé para retirar um prêmio de um milhão que ele acredita ter ganhado. nebraska

E por falar em velhice, minha pele mudou. Demorei a me dar conta, mas mudou. Definitiva e progressivamente. Finjo naturalidade, por dignidade ou por medo de lutar contra o tempo. É uma batalha perdida. Então, só resta a dignidade, como se pudesse ser digno o que não tem remédio.

Já a verve, continua a mesma. De pôia. Respostas sagazes só me ocorrem com  delay de algumas horas. Tenho ensaiado reações mais intempestivas, mas até isso requer cálculo. Semana passada troquei gritos com a bruxa do terceiro andar. Desde a guerra das janelas, temos virado a cara uma para a outra deliberadamente. Daí ela bateu a porta do prédio na minha cara. Aí já era demais! Passei alguns segundos no hall processando o ocorrido em meio ao estrondo que reverberou por todo o prédio. E resolvi que a minha indignação devia ser demonstrada para o mundo. Voltei, abri a porta e, aos gritos, perguntei se ela queria quebrar a porta. Daí ela gritou de volta, e eu gritei de novo, e ela continuou gritando. Mas eu não recuei. Gritei mais e mais.  Uma verdadeira ópera!

No final das contas, entre falar e calar, ainda prefiro esta última.